Mais de dois meses se passaram sem que eu postasse meus fragmentos, qualquer outro assunto ou notícia. Idealizei uma atividade que precisa ser regular, mas ainda não consegui disciplinar-me para atualizar este Blog pelo menos semanalmente. E ainda dizem que professora não trabalha, ou o faz muito pouco. Se antigamente, quando entrei na escola, uma professora já trabalhava muito, agora então, além das atividades docentes ainda temos que estudar bastante para atender às necessidades da formação. Pois vivenciamos uma época em que a produção do conhecimento se dá de forma tão vertiginosa, que nunca estamos suficientemente atualizados e o que sabemos é muito pouco diante do que não sabemos.
Naquele tempo, quando as coisas aconteciam lentamente, quando as notícias demoravam para chegar à pequena cidadezinha, no tempo das revistas “Manchete” e “O cruzeiro”, o conhecimento cabia dentro de alguns livros didáticos como os de História do Brasil e História Geral do professor Antonio José Borges Hermida. Este nome é inesquecível, e mais adiante, em um dos próximos fragmentos vocês compreenderão por que.
Meu pai gostava de ler “O Cruzeiro” e uma vez ou outra ele comprava um número da revista, que era editada e publicada no Rio de Janeiro. Por isso agora, valendo-me dos recursos do ciberespaço, encontrei uma das antigas publicações com a reportagem de David Nasser sobre Carmem Miranda, grande sucesso da música e do cinema e que chamava a atenção de todos pela sua exuberância e talento. A reportagem data de 26 de fevereiro de 1949, ano de meu ingresso na escola da professora Marília (seis anos depois, morre a cantora de problemas cardíacos deixando desolados seus fãs, de todas as idades).
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://carmen.miranda.nom.br/carmen260.jpg&imgrefurl=http://carmen.miranda.nom.br/cruzeiro.html&h=409&w=300&sz=94&tbnid=RKAx-MlHgeI8_M:&tbnh=125&tbnw=92&prev=/images%3Fq%3Do%2Bcruzeiro%2Brevista&hl=pt-BR&usg=__WnSLORpSj2ITlL4nganTATTsI3Y=&ei=DrItS86yJs2duAeIn9GkBw&sa=X&oi=image_result&resnum=7&ct=image&ved=0CCAQ9QEwBg
Lembro-me de tantas coisas daquele tempo, tenho fotografada na lembrança aquela sala de aula, a carranca da professora, seu duro olhar intimidativo, quando notava alguma travessura. Nossos semblantes eram quase sempre assustados, porque queríamos brincar, conversar, mas não nos era permitida qualquer outra coisa além de movimentar o olhar do caderno para a professora, para o quadro negro, para o caderno, para o livro. Depois desta, nos mudamos para outra sala de aula perto da Praça da Igreja Nova, numa rua estreita, que ainda existe com algumas diferenças porque as casas foram reformadas. A sala era muito grande e as carteiras ficavam enfileiradas bem no centro, com espaços entre as fileiras, o suficiente para que a professora circulasse para acompanhar as nossas atividades. Apesar da severidade própria da época, dona Marília, como a chamávamos respeitosamente, dedicava-se com esmero à nossa aprendizagem e muito do que sei hoje é resultado daquele ensino ao qual nos adaptávamos como algo natural, apesar do incômodo que nos causava o excesso de rigor disciplinar.
Excesso se considerarmos os conceitos atuais, porque era uma prática aceita sem reclamações, seja da sociedade, seja da família; porque, oh céus!... Ainda vejo nitidamente a professora andando pela sala, vigilante, com uma imensa régua na mão, batendo nas nossas pernas sempre que julgava o nosso comportamento incorreto, como por exemplo: olhar para o ou a colega do lado e sorrir, folhear outra coisa que não o material de estudo, ou errar na resposta de uma pergunta inesperada. Pode parecer incrível, mas neste momento recriei uma imagem significativa: ela ia passando ao meu lado e me surpreendeu conversando com a colega de carteira; não deu outra: uma reguada nas pernas e estava eu a derramar lágrimas (silenciosas) pela face envergonhada enquanto ela sorria com a costumeira altivez! Fiquei nesta escola até o quarto ano primário, quando fui fazer o quinto ano com a professora Edith Bulcão.
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