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FRAGMENTOS DE LEMBRANÇAS DE FATOS ANTEPASSADOS

1956 - Ano em que entrei no Ginásio.

Lembro-me de que existia uma bebida chamada Gasosa. Era um refrigerante gaseificado e muito gostoso. Uma novidade e tanto naqueles tempos. Para nós, família pobre, a Gasosa e o Guaraná Antártica, eram bebidas domingueiras, porque domingo era o dia reservado para acontecimentos importantes. O automóvel era na minha pequenina cidade um objeto de luxo, conquistado por muito poucos. Quem tinha um o deixava a maior parte do tempo guardado na garagem com muito zelo. Os mais usados eram o Geep, os modelos 1925 e 1927, o Kaiser e o Ford Preto, aliás, única cor de fabricação inicial.

Era 24 de agosto de 1954, a nossa cidade amanheceu em polvorosa. Chegou a notícia da morte do Presidente Getúlio Vargas. Os jornaleiros gritavam a notícia e todos saiam para comprar o jornal e tagarelar sobre suas suposições nas esquinas, nas mesas dos bares, nas calçadas, nos bancos do jardim, no açougue, no mercadinho, na feira, diante do rádio que não parava de noticiar os últimos acontecimentos. Todos acusavam alguém e lamentavam a grande perda. Eu, com os meus 11 anos, não entendia porque meu pai nutria pelo presidente uma grande admiração e se mostrava indignado com os acontecimentos. Um nome ecoava nos meus ouvidos, porque era pronunciado em tons de acusação. Era o nome de Gregório, o homem de confiança do presidente.

Meu pai, grande leitor, ouvinte assíduo do rádio e conhecedor dos grandes acontecimentos do país, começou a pronunciar com muito entusiasmo outro nome: Juscelino Kubitscheck, hoje imortalizado pelas suas realizações. Considerado o grande estadista, suas manobras e seus feitos para chegar ao governo, decantados por uns e condenados por outros, marcaram um dos momentos de minha vida de estudante. Em casa, com as preleções de meu pai e no colégio, com as lições da professora Marília Queiroz.

Deputado Horiosvaldo Santos, vulgo Lourinho, fazendeiro da região e empresário, com apenas o então curso primário, nascido em 4 de junho de 1912 e falecido em 13 de novembro de 1995 - foi um dos políticos atuantes dos anos 1960-1975 na região sertaneja de Serrinha. Em 21 de novembro de 1954 foi eleito prefeito de Serrinha e contribuiu para a luta de José Oliveira Lima na restauração do município de Araci. Admirado por uns e repudiado por outros, mas haviam também, como em todas as épocas, os indiferentes, ou espectadores introspectivos, de quem nada se podia colher, nem uma idéia que seja. Foi agraciado com o título de "Capitão do Progresso", porque considerado um homem de visão avançada. Como parlamentar ocupou o cargo de 3º suplente de secretário da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa; foi titular das comissões de Finanças e Serviços Públicos de 1960 a 1961 e de Economia e Transportes em 1962. Foi membro dos partidos MDB e PRP (Fonte: Assembléia Legislativa da Bahia).

Na época, fora eleito governador do Estado da Bahia o Sr. Antonio Balbino de Carvalho Filho, por quem meu pai nutria uma grande admiração. Eu me perguntava porque e ouvia meu pai dizer que ele era um homem de bem. Não sei, não tinha idade suficiente nem experiência para emitir um julgamento, mas o julgamento da história diz que o político, advogado, professor e jornalista, Doutor em Direito pela Faculdade de Direito da Bahia, nascido na cidade de Barreiras, deu importantes contribuições para o Estado da Bahia. Fora Ministro da Educação e Cultura, Consultor Geral da República, Deputado Estadual e Federal, Senador da República, entre outras funções de igual importância, em sua carreira política. Além de trabalhos publicados em sua área de atuação. Entre outras realizações de grande valor cultural, educacional e político, deu início às obras do atual Teatro Castro Alves e construiu o Ginásio de Esportes - "O Balbininho" - anexo ao antigo Estádio da Fonte Nova (Fonte: Portal Senadores, pensargrandeilheus.blogspot.com).

Hoje, 15 de janeiro de 2012, passados alguns meses desde que fiz esta postagem, posso complementá-la com esta foto que meu filho Toninho me trouxe, do bairro onde moro. O postal não tem data, mas retrata uma época que deixa entrever o tempo transcorrido desde lá para cá. Reconheço o panorama do bairro de Nazaré lá pelos idos da década de 1970, provavelmente. Construções, desconstruções e reconstruções foram se acomodando para mudar o panorama do bairro e de suas adjacências.


Na parte superior direita da foto vê-se as águas do Dique do Tororó. A seta azul indica a Fonte Nova, onde muitos jogos aconteceram, muitos eventos importantes. A seta laranja indica o Balbininho que também teve seus anos de glória no esporte, até não mais existir, como a Fonte Nova, em consequência das transformações vertiginosas dos tempos atuais. A expectativa dos soteropolitanos e dos imigrantes de muitas partes do Brasil e do mundo, hoje, é de um grande e apoteótico evento arquitetônico, a ponto de especulações imobiliárias fazerem previsões extremamente otimistas quanto à valorização dos imóveis do bairro. Isto em função da copa de 2014.

Descendo o olhar para a Praça Almeida Couto, conhecida como Largo de Nazaré, vemos, indicado pela seta vermelha, o prédio onde moro desde 1974. Em frente, quase escondida pelas árvores, a Igreja de Nazaré. A seta amarela indica o local onde foram construídos três prédios residenciais e o antes Paes Mendonça, hoje Bom Preço, depois de outras mudanças de nomes. Onde está a seta dupla marron, na época da foto era apenas grama, onde foram plantados alguns arvoredos que hoje, crescidos, enfeitam o cenário do Vale de Nazaré. Deixo agora para o leitor, identificar outros detalhes que diferenciam esta imagem, nem tão antiga, dos tempos atuais.