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sábado, 23 de abril de 2011

FRAGMENTOS DE VIDA E FORMAÇÃO VIII

DEPOIS DO QUINTO ANO PRIMÁRIO, O GINÁSIO

As lembranças perambulam, saltitam ora velozes ora lentas, querendo deter-se em algum lugar do passado. São muitos os lugares, são muitas as vivências de um tempo em que o sonho estava sempre em primeiro lugar. E a minha iniciação ao ginásio, momento de grande importância, foi muito significativa porque eu comecei a me sentir mais livre, mais madura e com uma sensação de poder dispor de meu tempo e de minha vontade como quisesse.


 Foto atual - Eu, Ana Lúcia e Edmundo na Praça do Ginásio


FOTO ATUAL DO GINÁSIO ESTADUAL LUIZ NOGUEIRA
Antigamente era Praça do Ginásio
Hoje é Praça Morena Bela

Um desses momentos que nos dão uma sensação gostosa de vitória foi decisivo para mim. A minha catequista, Dona Pipe, era como nós a chamávamos carinhosamente, gostava de procurar entre as suas pupilas alguma vocação para o celibato, no convento, é claro. E a minha mãe, muito católica; meu pai um homem “temente a Deus”, como gostava de se identificar, ficariam muito felizes de terem uma filha freira.

Mas, oh! Deus! Eu não queria! Sonhava em crescer depressa e namorar, pois já alimentava devaneios singelos por um garoto lindo e gentil, de olhares travessos e cheios de promessas. Escondia com zelo e discrição aquele sentimento lindo, que se expressava em folguedos de crianças, brincadeiras inocentes, olhares furtivos, suspiros profundos... Nada mais que isto.

E um dia, Dona Pipe me convidou para jantar com ela. Tinha sérias intenções de me convencer a arrumar minhas malas e partir para o convento. Fui... Muito decidida a acabar com aquela festa, naquele dia mesmo. Concentrei-me nos meus propósitos, sentei-me à mesa, entre ela e seu esposo, homem de fina educação e marido dedicado, eram os adjetivos que lhe davam e que causavam certa inveja nas mulheres não tão bem casadas.

A mesa, preparada com esmero para um jantar íntimo, denotava a fina educação doméstica da dona da casa. As iguarias dignas de uma princesa, era assim que me tratavam. Jantamos animadamente e no final, Dona Pipe entrou de sola na conversa sobre o convento. Era o que eu esperava para lhe fazer a fatídica pergunta: Dona Pipe, falei de modo respeitoso, lhe tenho um enorme carinho, com a senhora aprendi muitas coisas, mas, eu não quero ser freira, quero namorar e casar com o meu príncipe. Ao que ela me respondeu: você será esposa de Jesus e será muito feliz.

Segurei a indignação, para não perder a gentileza, e perguntei: Dona Pipe, se é tão bom ser freira e esposa de Jesus, porque a senhora não foi para o convento? Preferiu se casar? Ela se deu conta de que não deveria mais insistir e disse: minha menina, quero conhecer este príncipe que está lhe tirando de uma vocação tão linda! Tão linda, mas a senhora não quis, não é mesmo? Falei com um sorriso travesso! E não lhe revelei o nome do meu príncipe, segredo de criança, que guardava feliz a gentileza e a ternura dos olhares, nada mais que isto, mas, que nunca foi esquecido. Cada um seguiu por caminhos que levaram a outros lugares/momentos e a lembrança guardou a magia da esperança, porque, em algum lugar/momento do universo, novos sorrisos e olhares poderão se encontrar novamente. 

Assunto encerrado, passamos a falar do ginásio, da nova experiência e ela me deu bons conselhos sobre os cuidados que deveria ter para aproveitar o tempo e estudar muito. Não faltaram os conselhos para ter cuidado com os “lobos maus” que poderiam maltratar os sentimentos das meninas. Sorrimos muito e ela se divertia com as minhas descrições sobre os meus sonhos para o futuro. Eu queria ser cientista, estudar medicina e me dedicar a pesquisas na área. Foi um sonho bonito que nunca se concretizou, porque minha vida traçou outros caminhos, que caminhei saudosa, mas sem perder as esperanças de poder realizar-me em algum momento do futuro.

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