Os meus tempos de ginásio foram aqueles que modelaram a menina moça, estudante e quase mulher, que sufocava os anseios de uma juventude marcada pelas proibições e pelos preconceitos. Naquele tempo eu me sentia solitária por não me fazer compreender pelos adultos que decidiam sobre minha vida. Depois, quando mulher verdadeiramente, me senti solitária por não me ter sido permitido vivenciar a minha mais preciosa escolha: o amor da criança que viu o seu "príncipe" e ouviu alguém com autoridade suficiente dizer que não poderia, que era proibido! Oh! Céus!... Aceitei... Aceitamos... Silenciamos... sublimando tudo em terna amizade, na solicitude inevitável de quem teve como única alternativa obedecer... Sufoquei? Não... Guardei no mais recôndito de mim, um sentimento gigante... guardei e escondi de olhares e percepções indiscretas e inconsequentes o meu mais preciso bem: o amor... a ternura... o doce encantamento que dois olhares sentiam e nele se faziam compreender.
Naquele tempo eu não sabia que futuro teria a minha Fênix... se um dia Ela despertaria... Hoje eu sei... alimentei-a com tanto carinho, que hoje Ela reina em minha vida, liberta de todas as frustrações do passado. Hoje ninguém tem poder sobre Ela! O amor venceu! Sobreviveu além desta vida e, para quem acredita em vidas futuras porque sabe, sobreviverá para sempre, pela eternidade... Esta verdade está dentro de mim, ninguém a compreende além de mim... Não sinto mais solidão, aquela que senti em todos os anos de minha vida em que vivenciei com pessoas que busquei amar... que amei... passageiramente... sem ternura... por uma necessidade de substituir algo em mim que me nutria e que não estava comigo objetivamente, mas no meu mais íntimo de mim. E, sorrateiramente... delicadamente... ternamente... o retorno do sonho alimenta o meu viver e me faz promessas... Aquelas que o tempo não apagou... que viverão para sempre... aqui, agora e em algum lugar do futuro...
Sim, porque a minha Fênix alçou voo para o infinito, mergulhou no mar imenso da eternidade, deixando-me aqui, descontente e solitária, buscando os acordes de seu Amor que vibram na ternura do vir a Ser de nós Dois.
A Ti dedico... De Camões
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento Etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente,
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
Dedico este poema a alguém que desta vida partiu há muitos anos, deixando uma saudade imensa no meu coração de menina e uma esperança que se concretizará em algum lugar do universo, em algum momento do futuro.
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