Pesquisar este blog

sábado, 19 de maio de 2012

FRAGMENTOS DE VIDA E FORMAÇÃO XII

Hoje, dia 19 de maio de 2012, recebi um e-mail de Jussara, professora da Escola Rui Bacelar em Nova Soure, pedindo informações sobre a Nova Soure antiga. Meus registros são fruto de informações emprestadas das histórias que meu pai contava. Por várias vezes ele atendeu à minha curiosidade, contanto com detalhes como ele se viu frente a frente com o bandido mais temido do sertão: Lampião.

Meu querido pai, homem simples do campo, além do labor em seu pequeno sítio na região de Monte Alegre, prestava serviços na fazenda do Coronel Feliciano, um dos homens mais ricos da região. Um dia, Lampião com o seu bando invade a fazenda e obriga meu pai e os demais empregados a servi-los.

Dizia meu velho pai que a dispensa da fazenda (local onde eram guardados os alimentos) estava bem sortida de carne seca, linguiça feita com carne de porco na tripa de boi seca e bebidas típicas da região. Enquanto os velhos donos da fazenda ficaram recolhidos nos seus aposentos sem nada poder fazer, meu pai se desdobrava para satisfazer os desejos da turba, que bebia e comia sem cerimônias. Lampião mandou vasculhar os aposentos do casal e descobriu que eles tinham grande quantidade de jóias em ouro, prata e pedras preciosas, em um velho baú. Apropriou-se das joias, do dinheiro do casal e de tudo que existia na fazenda que tivesse algum valor. Corisco, o mais temido dos vassalos de Lampião, cismou com meu pai, jurando-o de morte depois de obrigá-lo a servi-lhes um lauto jantar.

Enquanto aqueles homens comiam e bebiam, meu pai conversava com um dos capangas de lampião, que não concordara com a ameaça de Corisco e prometera salvar-lhe a vida. Combinaram que o rapaz distrairia o bando e meu para fugiria pelos fundos da casa, com a desculpa de procurar uma espora para Lampião. Assim foi feito. Meu pai pegou na cozinha um fifó (tipo de utensílio usado para iluminar os cômodos da casa, alimentado com querosene) e saiu sorrateiramente. Ao se encontrar a salvo no quintal da casa, enfiou o fifó numa moita e saiu correndo... Correu... Correu... até chegar em casa, salvando-se da ameaça de Corisco.

Intrigada, perguntei: e os velhos, como ficaram, sozinhos na fazenda com o bando? Meu pai explicou-me que Lampião respeitava as pessoas idosas e nada fazia com elas nem com quem atendia aos seus desejos. Que se desentendia com Corisco, pelo seu caráter violento. E que muitas das histórias de violências praticadas contra crianças eram simplesmente lendas e fruto da imaginação popular. Disse ainda que Lampião era uma figura contraditória, roubava os ricos e ajudava os pobres. E que Maria Bonita lhe deu a impressão de ser uma mulher arrogante e vaidosa.


Nenhum comentário: